[Trecho editado do artigo presente na Wikipedia] "O Gato de Schrödinger é uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas sim "morto-vivo".
Por sua vida supostamente atrelar-se a um evento aleatório quântico, um gato "vivomorto" surge como reflexo de um estado quântico. Em termos técnicos, o estado "vivomorto" (claramente distinto do estado vivo e distinto do estado morto) compõe-se pelo emaranhamento desses dois estados e constitui de fato, segundo o que se busca elucidar, a situação do gato no experimento, ao menos enquanto o sistema permanecer fechado, sem ser observado.
O experimento também traz à tona questionamentos quanto à natureza do "observador" e da "observação" na mecânica quântica; se você, pelo fato de abrir a caixa e deparar-se com um gato morto, é ou não o responsável pela sua morte. Foi no transcurso desse experimento que Schrödinger criou o termo Verschränkung (em português, entrelaçamento)."
Dada a introdução eu diria que no caso específico da mulher seria melhor descrever seu entrelaçamento como quântico-social e existente-inexistente além de vivo-morto.
Quando o patriarcado funda sua opressão ao criar a casta sexual das mulheres à partir do seu potencial para desenvolver um organismo capaz de ser fecundado pelos machos ele já determina o primeiro ponto para dissolver a mulher, pois assim a mulher não é nada, ela é um potencial, e não é um potencial de ser ela mesma, é um potencial de servir ao outro. Esse é seu primeiro "entrelaçamento", a mulher, até que sirva de alguma forma para o patriarcado, existe e não-existe, dependendo apenas do observador, no caso, o macho, para direcionar sua atenção a ela e torna-la existente.
Esse não é porém o único estado "vivo-morto" da mulher, infelizmente. Além da mulher depender de que o macho a defina como mulher, como potencial para existir para ele, há uma necessidade constante de manutenção do seu estado como mulher para que a mulher continue sendo assim definida pelo macho. Há uma série de rituais de submissão, compilados sob o nome de feminilidade, que determinam que uma mulher continue sendo foco do homem e assim permaneça no estado "vivo" ou "existente".
Uma crueldade implícita está aí, pois o mesmo observador, ou seja, macho, que determina o estado "vivo" ou "existente", também determina o estado "morto" ou "inexistente". Estar sob o olhar do observador é ao mesmo tempo uma condição de vida-existência e de morte-inexistência. Essa condição de viver sob essa crueldade se tornou então um poder para que a mulher lutasse contra seu estado de "entrelaçamento" imposto pelo patriarcado, pois algo bem definido estava ali, a opressão praticada contra ela, independente do seu estado. O opressor sabotou seu próprio plano ao deixar algo muito bem definido, determinado, fixo, invariável.
O opressor então surgiu com um plano para corrigir esse deslize, o Queer. O queer vem como arma do patriarcado para impor à opressão que a mulher vive um estado de "entrelaçamento" onde ela existe e não existe. A condição de ser mulher que em um certo momento era confrontada por poder ser definida pela sua opressão agora, no queer, é a opressão mas é também oprimir, deter privilégios, o famoso "privilégio cis". No queer a mulher é mulher mas também pode não ser, pode ser homem, pode não ser nada, pode ser várias coisas.
A grande questão aqui é que indefinida, a não ser pelo seu opressor, a mulher sempre foi no patriarcado, o queer não traz nada de novo nessa área, só vem retomar e fortalecer essa condição de existência-quântico-indefinida. Sem o queer o patriarcado não tem como dissolver a mulher, porque a mulher vê o que há de inevitavelmente constante nesse suposto sistema aleatório, que é a opressão imposta pelo macho, seu observador.
O gato de Schrödinger existe independente do observador, na verdade é o observador que depende do gato pra se definir, e é isso que o observador, com seu discurso pseudo-físico, quer ocultar. Não é o gato que pode morrer quando o observador abre a caixa, é Schrödinger que pode deixar de existir quando perceber sua existência dependia de um evento aleatório quântico determinado pelo gato.
Se a mulher compreender que a constante do seu estado "entrelaçado" é o macho, e não deixar o queer dissolver a constante da sua opressão então ela vai sair da caixa, bem existente e bem viva, não num estado "entrelaçado", não morta-viva, não indefinida, e vai olhar para o seu observador, o macho, e o observador é que vai se dissolver. Se a mulher não se dobrar ao queer, se abraçar o absoluto da opressão que sofre para controntá-la de maneira bem definida quem se torna dependente do seu olhar observador é o patriarcado de Schrödinger.
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